
Talvez a decisão da Turtle Rock de não lançar Evolve para a geração anterior tenha soado meio despótica em alguns ouvidos. Mas não se pode negar: a um motivo bastante razoável para isso. Afinal, a renderização detalhada da vegetação e, de forma geral, de todos os objetos de cenário não é uma simples decisão estética aqui. Antes, é a própria pedra angular de uma proposta multiplayer das mais promissoras.
Conforme a enorme monstruosidade se desloca furtivamente, a fim de arrancar a cabeça dos seus algozes, mesmo os mínimos detalhes devem ser cruciais — desde o farfalhar das árvores até os pequenos animais que fogem instintivamente, denunciando a presença nefasta. Dessa forma, sim, talvez fosse mesmo um despropósito produzir um port de Evolve — que poderia simplesmente parecer um jogo capado, no final das contas.
Entretanto, essas minúcias são apenas parte da experiência potencialmente inovadora que deve ser embarcada em Evolve. De fato, a Turtle Rock apareceu recentemente com novos detalhes, mostrando como a sua leitura muito particular do hoje chamado “multiplayer assimétrico” deve virar definitivamente a página quando se trata de colaboração e destruição online.

Ao final, você deve ter uma ideia mais clara do porquê de a Take-Two ter despendido vultosos US$ 10,8 milhões para adquirir Evolve da finada THQ durante uma audição. Quer dizer, trata-se, afinal, da mesma equipe que concebeu e materializou Left 4 Dead. A despeito das glórias passadas, entretanto, Evolve ainda parece apresentar um formato quase inteiramente novo para a jogatina cooperativa.
Um novo “quatro contra um”
De fato, não há muita história em Evolve. Na verdade, essa realmente não é a ideia aqui. Quem já jogou Left 4 Dead deve conhecer bem o estilo de “contar histórias” da Turtle Rock. Basicamente, uma colaboração intensa com seus companheiros de batalha deve fornecer todo o sentido de que você precisa. Bem, isso ou uma experiência sumamente solitária, caso você esteja no controle de uma das monstruosidades disponíveis no jogo.
A proposta, de fato, é bastante simples: quatro caçadores são incumbidos de varrer formas de vida hostis que povoam planetas inóspitos. Cada qual com uma função razoavelmente específica — há as classes Medic, Assault, Support e Trapper —, a ideia é caçar uma terrível abominação que “evolui” (sim, é daí o nome) constantemente, até se transformar em um verdadeiro pesadelo ambulante.
Mas esqueça qualquer maniqueísmo (“Bem” e “Mal” bem definidos). Isso porque, em grande parte dos casos, quem estará no controle da abominação que deve ser derrubada — o que pode ser, por exemplo, uma curiosa mistura entre Tank e Hunter, de Left 4 Dead — é também um jogador de carne e osso.
E é justamente dessa combinação que surge uma nova dimensão estratégica, inédita mesmo entre os pioneiros do multiplayer assimétrico. Em outras palavras, é daí que deve vir o novo vigor para os shooters — digamos, algo diferente do tradicional “corre, atira, corre, corre, pula, atira”.
Colaboração “forçada”
Conforme disse Chris Ashton em entrevista ao site VG24/7, é bastante fácil que uma proposta multiplayer colaborativa acabe saindo pela culatra — basta que os jogadores sejam apenas um peso uns para os outros, e a coisa toda está fadada ao fracasso. Foi justamente isso que a Turtle Rock buscou evitar com Evolve.
Na verdade, a impressão de que “é impossível obter sucesso sem a ajuda dos seus companheiros” deve dar um passo adiante mesmo em relação ao igualmente original Left 4 Dead. “[Em Left 4 Dead] não havia papeis específicos, mas havia números, certo?”, disse ele ao referido site. “Caso se afastasse da sua equipe, você seria rapidamente derrubado por um Hunter ou algo semelhante, tornando-se completamente incapaz de salvar a própria pele.”
Ele continua: “Dessa forma, ao forçar [a interação] a acontecer, torna-se necessário dar suporte, e é aí que todo o trabalho duro realmente aparece, em que é necessário tornar fácil o trabalho em equipe. Caso seja difícil trabalhar em equipe, o resultado será uma experiência terrível para todos os envolvidos — não será divertido”.
Um passo além de Left 4 Dead
Inegavelmente, grande parte dos genes de Evolve encontram-se na experiência multiplayer de Left 4 Dead — algo que a Turtle Rock absolutamente não nega. “Isso tudo começou com Left 4 Dead, e várias coisas que hoje são padrão não o eram, e demorou algum tempo para que se tornassem.”
Como exemplo, Ashton menciona a forma como um companheiro pode ser visto quando é atacado, a despeito de quaisquer obstáculos físicos. “São coisas como a forma como a silhueta de um companheiro é iluminada através das paredes, de forma que você pode ver se ele está sendo atacado por um Hunter, com o Hunter delineado em vermelho, de forma que você possa diferenciar.”

Antes disso, ele lembra, não seria possível saber o que exatamente se passava. “Destacá-lo em vermelho tornou possível que todos entendessem o que estava acontecendo, podendo, então, reagir de acordo.” Ademais, ele reforça: “No que se refere à jogabilidade cooperativa, há apenas duas coisas: é preciso assegurar que os seus companheiros são vitais e que eles possam fazer o que precisam para obter o sucesso”.
Personagens com propósitos específicos
“É possível enfrentar apenas um pouco em cada vez que você faz um jogo, especialmente quando se tenta coisas novas”, disse Ashton, quando perguntado sobre certa “insatisfação” da equipe com os rumos de Left 4 Dead — o que, consequentemente, deve ter um grande impacto nas decisões sobre Evolve.
“De fato havia muitas coisas e, quando nós lançamos Left 4 Dead, ao final do dia boa parte delas não nos agradavam”, disse ele, “de forma que nós quisemos assegurar que tudo estivesse resolvido logo de cara em Evolve”.
Entre as principais diferenças, o designer menciona a diferenciação entre os membros do grupo. “Em Left 4 Dead realmente não fazia diferença o personagem que você escolhesse, e também realmente não fazia diferença — no fim das contas — as escolhas que você fazia relacionadas aos armamentos, optasse você por uma escopeta ou por um rifle.”
História em doses homeopáticas
Quem jogou Left 4 Dead deve se lembrar bem da forma como a (pouca) história era contada. Basicamente, sempre em conta-gotas — em um formato semelhante ao de Demon’s Souls e Dark Souls, guardadas as devidas proporções. Bem, isso deve se manter em Evolve.
“O que nós mostramos às pessoas até agora está mais para ‘vamos disparar alguns tiros neste mapa’, mas, no fim das contas, há uma razão pela qual você está ali, e há um objetivo que o monstro tenta destruir.” A dica? Caso queira conhecer um pouco mais sobre a história de Evolve, é bom prestar atenção aos diálogos dos protagonistas.

“Os personagens vão tagarelar sobre o objetivo enquanto estiverem no mundo de jogo, de forma que você poderá aprender algo da ficção com eles — da mesma forma com que era feito em Left 4 Dead.” Em outras palavras, eles vão “falar sobre o mundo” enquanto estiverem ali — mais ou menos como aqueles diálogos de filme cujo propósito é esclarecer, discretamente, as coisas para quem assiste.
Há também um jogo offline
Não, não se trata aqui de simplesmente oferecer um modo campanha curto, a título de obrigação moral, tal e qual fazem outras franquias grandes por aí. Evolve tem sua experiência centrada na jogabilidade multiplayer assimétrica online — e a Turtle Rock não tem qualquer problema em reconhecer isso.
Entretanto, ainda há aqui uma experiência essencialmente offline, e isso, sobretudo, para tornar o ingresso de novatos um tanto mais suave. “Há tantos monstros, personagens e estratégias diferentes que nós quisemos ter a certeza de que, se quisesse, você poderia aprender algo e treinar antes de mergulhar no espaço online”.

Naturalmente, caso o seu estilo seja mais para dar as caras e ver o que acontece, é possível simplesmente ignorar a parcela offline — embora mesmo o mais calejado dos jogadores ainda possa aprender uma ou duas coisas antes de se lançar com os “iniciados”, é claro. “E é por isso que os componentes offline e single player se tornaram tão importantes para nós”.
A bola não pode parar
A Turtle Rock também esclareceu alguns pontos sobre as formas como serão organizadas as batalhas em ambiente online. Trata-se, é claro, do pareamento (matchmaking), procedimento que assegura que dois jogadores com níveis de experiência discrepantes possam, caso queiram, evitar a companhia um do outro em um mesmo confronto. Mas a softhouse também esclareceu como deve resolver aqueles momentos em que um jogador desaparece da partida.
“Ainda é um tanto prematuro. Nós ainda estamos organizando as coisas mas, neste momento, nós podemos dizer que, com certeza, a I.A. [inteligência artificial] terá um papel importante no formato.” Basicamente, caso alguém desapareça — seja por uma conexão perdida ou pela mais pura falta de esportividade —, a inteligência artificial de Evolve ocupará o seu lugar, seja controlando o monstro ou qualquer dos personagens caçadores.

“Dependendo de como a partida foi organizada, nós também poderemos remanejar outras pessoas para dentro do seu jogo”, ele acrescenta. “Em alguns modos, você terá o controle sobre isso” — no caso de uma partida fechada entre amigos, por exemplo, em que será possível convidar outra pessoas para ocupar o lugar do membro faltante. “Utilizar a I.A. nos dá uma boa flexibilidade.”
Uma chance para um jogador desaparecido
Além disso, o jogo também será suficientemente inteligente para “dar uma chance” para um jogador que tenha desaparecido subitamente da partida. “Caso você esteja jogando contra um jogador que controla um monstro, nós queremos dar a ele a oportunidade de retomar a conexão com o jogo.”
Nesses casos, portanto, a inteligência artificial entrará em cena como uma espécie de “suplente”, simplesmente para que as coisas não parem até o retorno do jogador em questão. Naturalmente, essa espera não será eterna e, caso a sua internet realmente não colabore, o lugar será ocupado por outro jogador — ou pela própria I.A., em caráter definitivo.
Enfim, ao olhar Evolve em detalhes, fica-se com a impressão clara de que a nova proposta da Turtle Rock pode mesmo trazer consigo um novo gás, uma nova variedade para os formatos multiplayer online.
Lançando mão de elementos inaugurados em Left 4 Dead, a desenvolvedora deve renovar mesmo o formato relativamente recente do “multiplayer assimétrico” — e tudo isso animado por uma “simples” caçada na floresta. Vale esperar para ver no que isso pode dar.
Evolve tem lançamento previsto para o dia 16 de setembro deste ano, com versões para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
Fonte: BJ